VIAGEM NO CORAÇÃO
Um vagão estrépito
estremece-me
para dentro
e para fora
de mim mesmo,
neste embalar tão infantil,
tão inocente
de incerteza,
de inquietação,
de qualquer coisa que não conheço,
que recuso em reconhecer
deste embalar
que me oscila
entre o acordado
e o adormecido.
Lá atrás
no vazio da memória,
só ecos nostálgicos, elétricos,
no anúncio de partida
num apeadeiro estremecido
metamorfoseando real em irreal
como coisa certa
em coisa incerta,
como estado sólido, concreto,
em estado líquido, vaporizado,
em vida sisada
por vida leve,
como universo inteiro
fosse somente sonho,
transparente, límpido e lúcido.
Janela de vidro
que me separa
do lá fora
neste deslizar
o linhas de ferro
ou de sonho.
Mas é este
fugir constante
que entra de um lado da janela
e foge do outro lado da janela,
árvores, montes, rio e céu.
Embalar irrequieto,
interrogo-me:
"Que espaço é este
em mim mesmo
como se eu fosse
só quietude
e a vida inteira
deslizasse em mim mesmo?".
Sigo viagem neste viver
de imenso mistério,
sigo viagem para dentro
do meu coração
Fernando Nunes