Por aqui continua-se a escrever a crónica sobre a minha ida a El Chorro em 1995, e sim nesta época o Caminhito Del Rey era mesmo uma aventura J não era um palco de atração turística,. Afirmam escaladores portugueses que conheceram o caminho antes das obras de restauração e depois das obras quando lá regressaram, foi como se tivessem levado um soco no estômago, o caminho estava repleto de turistas como formigas em carreiro. Mas a crónica fica para um dia próximo. Deixo-te hoje com um texto já arquivado à alguns meses, sobre a segunda nobre verdade.
Boas leituras
O sofrimento é causado pelo desejo / apego?
A verdade é que somos todos um pouco vítimas dos desejos. Desejamos, visualizamos, acreditamos e empenhamo-nos para conseguirmos realizar nossos desejos, até determinado ponto está correctíssimo. Afinal como muito se afirma por aí, "A vida é sonho.", sonhar é intrínseco ao ser humano, quando temos sonho nasce uma nova energia no nosso âmago, porém, nunca ou raramente pensamos que nem tudo o que desejamos se irá concretizar e que é sempre a vida que tem a última palavra. A minha experiência pessoal diz-me que é bom aprendermos a ser humildes porque de um momento para o outro a existência pode golpearmo-nos despedaçando sem dó e piedade nosso ego. Há dois caminhos, ou nos vamos libertando do ego através do amor verdadeiro, ou o sofrimento encarrega-se da tarefa.
Para terminar, diria que é salutar considerarmos sempre as duas fases dos desejos, o que pode acontecer de bom e o que pode acontecer de menos bom ou nem acontecer. E se não se concretizar, segue-se de cabeça erguida e sorriso no rosto porque a vida é mudança constante e contínua, como diz um provérbio budista, "Não se pode lavar a mesma mão duas vezes seguidas no mesmo rio.".
Duas parábolas para falar do apego, embora estas histórias narrem o oposto de apego, porém, são trágicas principalmente a segunda história e, a maioria dos mortais, reagiriam de forma diferente do que as nossas personagens.
Foi com grande perícia de profissional que se preze que o fulano conseguiu arrecadar a jóia frente as duas personagens que o atendiam com cortesia e generosidade. "Foi um prazer conversar com o Senhor, em breve estou certo que lhe trarei boas notícias, o meu sócio vai ficar entusiasmado com a possibilidade de adquirir jóia tão preciosa e única.". Fez um gesto delicado levantando ligeiramente o chapéu e saiu porta a fora.
"Senhor José, senhor José!", "Diz lá homem, estás com um ar de tragédia, o que se passa?"", inqueriu o negociante ao seu colaborador, "Senhor José, o cliente, o cliente, bom o cliente não era nenhum cliente, ele, ele roubou a jóia...." Depois de dois ou três segundos de silêncio, José sorriu e exclamou, "Maravilhoso, maravilhoso, maravilhoso!".
Embora sem entender o José o empregado manteve-se sem dizer palavra.
Depois de todos os procedimentos que a situação exigia com a polícia, a vida do comerciante continuou sem esse se revelar minimamente perturbado apesar da jóia roubada ter um valor maior do que o restante da sua riqueza.
Dias mais tarde a polícia prendeu o assaltante devolvendo a jóia ao negociante.
"Maravilhoso, maravilhoso, maravilhoso!", exclamou novamente José. O Colaborador da loja sem conseguir conter a curiosidade, "Senhor José, não o entendo, quando o larápio roubou a Jóia exclamou maravilhoso e agora que a sua jóia foi recuperada voltou a exclamar maravilhoso?".
O bom homem explicou-se afirmando que tinha sido maravilhoso em ambas a situações não ter perdido o bem mais valioso que lhe pertencia, a paz, a paz enraizada no âmago do seu coração.
O apito ronco e melancólico da locomotiva anunciou a partida de um comboio naquela tarde onde a estação principal da linha férrea estava aglomerada de muitos comboios. Porque nessa época as locomotivas moviam-se a energia do carvão,, soltou-se uma baforada de fumo negro que, por momentos, tirou quase por completo a visibilidade do Artur que andava apressadamente a olhar para o relógio, porém, numa fracção de segundos o sapato do Artur resvalou arrastando-lhe a perna para a linha que foi de imediato amputada pelas rodas da locomotiva.
No hospital, Artur foi informado que a sua esposa estava muito angustiada, ao que ele pediu para lhe dizerem, "Digam à minha esposa que eu só fiquei sem uma perna, e que ainda posso continuar a viver e a exercer a minha profissão de costureiro.".
Diz a lenda que Artur ao sair do hospital, mesmo antes de regressar a casa, dirigiu-se à estação do comboio e, com o coração cheio de gratidão, ficou a vislumbrar a enorme locomotiva, "Obrigado, obrigado, tive tanta sorte, podia ter morrido esmagado por esta grande locomotiva.".
Buda disse que grande parte do sofrimento humano é causado pelo desejo e apego.
Conclusão: passamos parte da vida ao sabor das emoções de desejos e apegos, mas existe a possibilidade de começarmos a sentir a vida com mais leveza, mais distanciamento de nós mesmos e abrimos o coração à compaixão.
Fernando Nunes