Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Viagens Pela Vida

Poesia e coisas do coração

Poesia e coisas do coração

Viagens Pela Vida

19
Mar19

SENTELHA DE ESTRELA

Fernando Nunes

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (1).

Entardecer de fogo,
não o sei lá fora,
só o invento
no íntimo
enternecido do meu coração.

Abro a janela
como necessidade urgente
de reinventar a eternidade
que me penetra olhos adentro
de horizonte desprendido
de centelha de estrela de mistério e de não sei bem o quê
que me faz acreditar
num pedaço de vento
com canto de pássaro.

Porque
às vezes
nada há para saber,
só grito
o silêncio e infinito
como invocação de liberdade final.

Um passo no abismo
e abre-se sempre
de novo o mistério.

Fernando Nunes

31
Dez18

A MINHA NOVA FACE

Fernando Nunes

Feliz ano :) Saúde e felicidade. Que todos os seres sejam felizes :) :)

 

A MINHA NOVA FACE

A minha face que
brilha em mim e em ti
como relembranças frescas ternas de
desenhos de crianças coloridos em folhas que
são despedaçadas ao vento em mil pedaços e
esquecidas
como coisa importuna da minha infância
queimado em bafo de noite quente
que me arde no ventre
sem rasto de memória.

A minha face
agora luminosa
fresca e húmida e peganhosa
no orvalho noturno
do meu rosto de mistério sem rosto
que sossega nesta terra crua e nua.

Ade renascer
em mim e em ti
a minha nova face
de rosto feito de infinito
que me queima agora a boca
com todos os alvoreceres
com línguas de fogo
que lambem e queimam
todas as eternidades
no mistério do infinito.

Fernando Nunes

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (3).

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (3).

 

25
Dez18

O CAMINHO

Fernando Nunes

O CAMINHO

É sentado
que aprendo o caminho,
mas não é sentado
que faço o caminho.

O caminho
é quando não caminho
e o caminho flui
como sorriso espontâneo
em mim mesmo.

O caminho
é o espaço ilimitado
do existir de todas as atividades.
onde sol
é refletido como sol.

Apanho uma flor
do chão
sem pensar
nos espinhos ou
nas pétalas sedosas

Sereno
na boca da nascente
não me deixo levar
por águas límpidas
ou águas turvas.

Tenho uma pedra
no sapato
velho e furado,
choro
não porque me dói o pé.
Choro
porque deito os sapatos fora.
No início dói-me
os pés.
A cada novo passo
há a frescura do novo
e aprendo a pisar a terra
e a senti-la como é.

Olho para trás
e não vislumbro
rastos
dos meus pés nus.
Olho para o futuro
e não vislumbro nada.
Os pés
caminham
frescos e renovados,
só um passo de cada vez.

Este poema
não é belo,
mas traz-me a frescura
subjacente
de cada verso.

donde brota
o teu pensamento?

Fernando Nunes

004.jpg

 

20
Dez18

NÃO QUERO SER

Fernando Nunes

NÃO QUERO SER

Não quero ser
alvorecer
vestido de vermelho
com chispas de infinito.

Não quero ser
tic tac de
sincronismo perfeito
de relógio de cozinha que
à meia-noite me abre ao mistério.
Nem sequer
quero ser
as estrelas
que te enchem a face  de tanta paz.

Não quero ser
as tuas alucinações adolescentes
com sonhos, risadas e coisas de imortalidade
esbanjadas da noite até ao alvorecer.
Não quero ser
a roda de todas as eternidades
dançando no alento
do teu coração aberto.
Nem sequer
quero ser
esta personagem que tem um passado
e se diz com futuro e
rabisca este poema.

Não quero ser
universos paralelos
e mundos psicadélicos
que inventas e que te aprisionam
em paraísos inexistentes.
Não quero ser
o amor de um anjo ou
o terror de um diabo.
que oscilam entre dor e prazer.
Nem sequer
quero ser
a terna infância
tão imaculada e pura
dos teus olhos não nascidos.

Por último
quero ser
cosmo despido de
todas as máscaras subtis e pesadas.
Quero ser
melodia silenciosa
que te sussurra eternidade,
quero ser
poesia não nascida
e palco de teatro
onde te observo como terno dançarino
mesmo quando bailas desajeitado.
Quero ser,
Quero simplesmente ser sem nada ser.

Atrás de todas as coisas que existem
há a liberdade
do teu respirar
e no meu sorriso.
Mesmo quando nossos cadáveres
descansarem na terra crua
haverá o respirar e o sorriso
das coisas não nascidas e, simultaneamente, já são nascidas

.

.

Não quero ser

.

.

Fernando Nunes

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (1).

 

18
Dez18

E TUDO O QUE NÃO SOU, SOU

Fernando Nunes

E TUDO O QUE NÃO SOU, SOU

Tudo o que sou
e o que penso que sou
e tudo o que me engano
e digo que não sou,
sou eu e não sou eu.

Tarde cinzenta
encafuada
num peito e noutro peito…
Que é alegria
que é tristeza.

Esplendor ardente
acima de negrume de nuvens,
vislumbro-te além de meu vislumbro,
são olhos de infinito e de silêncio
que
em mim também é infinito.
Luzeiro , bailado de sol ,
fulgor por cima de
negrume que embacia
cidade de papel ou tão pesada,
mas eu quero-a leve, transparente como pensamento…

Melódica, bate a chuva
a à tua, à minha, a cada uma janela
e a todas as janelas desta cidade,
e é brilho de sol
nas cistas de lágrimas que o céu chora…

As gotas por instantes
suspensas nos teus lábios
ou em brilho de meus olhos,
escoam-me na rua e rio e céu e sol e galáxias

E tudo o que não sou, sou

.

.

Fernando Nunes

chuva na janela (1).JPG

chuva na janela (2).JPG

chuva na janela (3).JPG

 

17
Dez18

1995 EL CHORRO

Fernando Nunes

Uma frase que ao invocá-la te ecoe no coração para um estado de presença que vai além da lembrança de outrora, mas que te faz reviver um fragmento significativo da tua existência sem ficares aprisionado a esse pedaço de memória, porque tens a consciência que a vivência não foi o mais importante, porém a liberdade que te proporcionou.

 

Vou gritar até as palavras ecoarem em vales silenciosos e serenos da memória, “El Chorro! El Chorro oooo ooo oo o.”. Serena Fernando, respira, porque as escarpas rochosas, o desfiladeiro com o Caminito Del Rey não te vem arrebatar o sossego desta manhã luminosa de Dezembro. Há essa presença infinita que sustenta as montanhas, El Chorro, e que está aqui também presente como eternidade, mistério e infinito.

 

O Caminito Del Rey foi construído em 1905 no desfiladeiro para facilitar a ligação das montanhas de Chorro e Gaitanejo. O percurso de 3 quilómetros que em algumas zonas chega a atingir os 100 metros de altura por falta de manutenção foi-se degradando ao longo de décadas passadas. Só recentemente em 2015 o trilho suspenso na garganta de falésias rochosas foi recuperado.

 

Na época em que pratiquei escalada desportiva, El Chorro para a comunidade de escaladores desportivos, era sinónimo de muitas paredes rochosas, muitas vias para se escalar, muitos sectores com uma diversidade incrível de vias. Entre os muitos sectores havia o do Caminito Del Rey. Nessa época o caminho estava degradado e em muitas zonas sem gradeamento de proteção, sendo a largura do passadiço em alguns sítios do trajeto não mais de 2 metros. Porém havia riscos reais aos que se aventuravam pelo caminho, como por exemplo meia dúzia de metros onde o caminho tinha desabado e para transpor esses metros só existia um carril de ferro dos das linhas de comboios. A travessia era efetuada com uma mão na falésia e um pé ante o outro e ia-se avançando calmamente com o olhar repousado bem na horizontal, mesmo para os que não eram atormentados com vertigens não era conveniente olhar para baixo pois a sensação de vazio era imensa mesmo ali debaixo dos pés o abismo que surgia quase como se insuflasse atmosfera onde era permitido levitar. Apesar de ser possível minimizar alguns perigos como por exemplo a personagem que fazia a travessia levar uma corda de segurança que o escalador que ficava na extremidade oposta à da margem a alcançar ia controlando, nem todos adaptavam regras de segurança.

 

Pratiquei escalada desportiva entre os 24  e os 28 anos de idade. Nessa época já não via do meu olho esquerdo e a visão do direito não era perfeita. Recordo-me de chegar bem cedo à Guia, zona de escalada desportiva entre Cascais e o Guincho, e a minha visão estar nebulada como se estivesse nevoeiro, só passado algum tempo, talvez 30 minutos a visão começava a normalizar. A maioria dos fins de semanas passei-os a escalar em sítios como a Guia, Sintra, Arrábida, Montejunto, Salir e serra do Sicó próximo a Pombal, porém, ainda tive o privilégio de me deslocar uma vez a El Chorro em Espanha.

 

O início de uma viagem de cerca de 700 quilómetros que separava Lisboa do pequeno povoado de El Chorro, começou no alvorecer ainda envolto em trevas.

 

As conversas que iam afugentando o sono da noite não as relembro, mas vou dizê-las banais simplesmente para os quatro aventureiros acomodados no veículo triturarem um pouco da viagem que ia ser longa. Porém, ouve momentos que a conversa esmoreceu e só ficou aquele ruído de fundo do motor do automóvel como lembrança esgotada do panorama a deslizar através das janelas como se fossem telas virtuais. Melancolia não fatal, mas misteriosa que te aperta o peito ou a alma ou não sei quê de um momento aberto em que o passado parece desfazer-se e o instante ser leve, dissolúvel como nuvem translúcida. Esse sentimento como personagem no apeadeiro à espera do comboio, a gare solitária, uma ou outra voz fantasmagórica esticada e inaudível das esquinas obscuras e súbito cuspir elétrico de altifalantes a anunciar a chegada do comboio, estilhaçam o íntimo da personagem como se o mistério ficasse intenso e tudo incerto, era mais ou menos assim que me sentia com algumas interrogações muito subtis a diluírem-se no silêncio de fundo onde até o rosnar do motor surgia sereno.

 

Sou eu que estou a deslizar, em movimento, ou é tudo que se move em mim mesmo?

 

Não sei, nem devo ter realizado tal interrogação, porém, é um sentimento pelo qual já fui acometido quando viajo de carro e principalmente de comboio. É aquela sensação de que estou imerso em quietude e o panorama lá fora é que se movimenta em mim mesmo.

 

Para Fernando, não penses, não imagines, respira e esquece também a respiração. Deslumbramento a rasgar o horizonte, vermelho, fogo puro, fogo no sol prostrado em esplendor no alvorecer e no meu coração. Devo simplesmente ter respirado profundamente e subtilmente e sossegar na serenidade do novo dia a expulsar as trevas, porque êxtase sóbrio só nos dias vindouros, só no mistério, no infinito de quimera em El Chorro.

 

Na manhã de Dezembro em que principiei a escrita deste relembrar o sol era límpido, cristalino de oiro genuíno a pulsar alegria, hoje há melancolia húmida e peganhosa na atmosfera. Dependendo da tua perceção, poder-se-á afirmar que o amanhecer soalheiro  é um dia bonito, e a madrugada cinzenta envolta em trevas é um dia triste. Porque adoro sol, vou dizer-te que o dia de sol senti-o radiante e hoje esta manhã sinto-a tristonha, porém, existe esse ser silencioso no meu íntimo, essa presença serena que está além da alegria ou tristeza, que simplesmente se sente livre e em paz. Que é o sentimento que se realça hoje aqui nesta manhã “tristonha” e no dia “alegre” e em “El Chorro” e até em momentos de sofrimento, de ansiedade em que o desespero se esgotou e subitamente só serenidade e paz. Hoje tenho a consciência que esse estar-se bem com a vida independentemente das circunstâncias é possível, mas vislumbrando o passado sei que essas vivências sublimes em plena comunhão com a natureza, com o cosmo foram relevantes para que hoje continue a expandir a consciência para ser mais livre.

 

El Chorro no início não se revela assim uma visão súbita e brutal e ainda bem, porque quando chegámos depois de fazer a inscrição no pequeno abrigo de montanha , metemo-nos no automóvel e rumámos a umas paredes bem próximo do abrigo, porém o panorama embora espetacular adivinhava surpresa para o dia seguinte. Queria e precisava de dormir bem e, provavelmente, se me defrontasse nesse final de tarde com os sectores que na manhã seguinte me aguardavam, teria adormecido demasiadamente excitado.

 

Era Junho e o calor do sul de Espanha já se fazia sentir em El Chorro, por isso o abrigo estava praticamente vazio e o 1ºandar só nos alojava a nós, os quatro escaladores de Portugal.

 

A verdade é impossível ser descrita em palavras, esta não é uma verdade absoluta, final, porém, é preciso ir a El Chorro e, mesmo que não sejas um trepador de rocha, caminhares por alguns trilhos mais emblemáticos , não me refiro propriamente al Caminito Del Rey, aliás, se um dia decidires visitar El Chorro já poderás caminhar no Caminito Del Rey sem receios de caíres no abismo porque desde 2015 o Caminito Del Rey foi restaurado e  transformado em atracão turística, o próprio sector situado no caminho com vias a iniciarem-se com o vazio por de baixo dos pés estão inacessíveis a todos os amantes das paredes rochosas, isto é porque foi proibido escalar no caminho com pretexto que os escaladores incomodavam os visitantes com o material de escalada um pouco espalhado no passadiço.

 

Que horas são? Que horas seriam nessa madrugada que despertei num beliche do refúgio de montanha? Não sei, não quero o tempo, preciso de estar, de ser o próprio silêncio subjacente ao tempo

 

Há uma leve claridade emoldurada na parede atrás de mim, movo-me lentamente como se tivesse receio de acordar os meus companheiros, deslizo suavemente até me abeirar das vidraças. O alvorecer desperta-me para que eu invente novamente o universo. As falésias que vislumbro daqui, surgem-me como se brotassem da obscuridade vazia da noite e o sol estendido no topo da verticalidade irregular das paredes rochosas. É tudo mágico e faço no vidro, que começa a ficar embaciado do meu bafo, uns rabiscos infantis, talvez para confirmar o concreto, o real, ou não, ou as duas partes da existência que é simultaneamente real irreal.

 

Mochilas às costas, recomeço da caminhada rumo às vias com o João a escolher os sectores do primeiro dia de escalada e com paragem obrigatória no bar junto à estação do caminho de ferro.

 

Café forte com conversa tranquila, pausada. Vou assimilando o panorama que me circunda, que é sublime, mas não é só a beleza da natureza a realçar-se. Há uma espécie de Ino silencioso  que vibra no ar, como se estas escarpas rochosas tivessem contaminado o cérebro dos escaladores com êxtase e, consecutivamente, os escaladores retribuíssem o júbilo que lhes aflora do íntimo da alma, do coração, do que tu lhe quiseres chamar. El Chorro, é esta a atmosfera que se vive por aqui, nas conversas, nos sorrisos e no brilho dos olhos em sincronia com o sol.

 

Esta é uma escola de escalada desportiva que tem sido muito acarinhada pelos portugueses, isto é por ser um dos locais mais próximos a Portugal que têm uma diversidade incrível de vias, desde as de poucos metros de altura, até vias mais altas de vários largos. Já a dificuldade das vias, existe aqui de tudo e para todos os gostos, vias de inclinação negativa, até vias de fácil escalada, são mais de 1500 vias espalhadas por vários sectores. Porém, o que mais atrai a comunidade de escaladores desportivos é o ambiente que se vive aqui, a fantástica comunhão com a natureza silenciosa que nos conecta à nossa essência mais verdadeira do coração, os próprios percursos até a alguns sectores que têm algo de quimérico e, simultaneamente, de aventura. Respira-se por aqui muita pujança física, mas o objetivo principal da maioria dos escaladores de rocha não é conseguir escalar vias mais e mais exigentes fisicamente, existe uma espécie de estilo de vida na comunidade dos “fanáticos” da rocha. Se há escaladores que só pensam no grau de dificuldade, que treinam para o impressionismo, perdem o mais belo e essencial desta dança na vertical.

 

“Em Abril, quando estive aqui, também cá estava o Paulo e o Brasileiro.”.”

 

Os meus olhos repousados no horizonte, desviam-se com curiosidade para o rosto do João. O Paulo é um dos escaladores mais míticos de Portugal, tanto pelo estilo de vida que tem adaptado, tanto pela grande forma a escalar vias. Já viveu como errante por terras de Espanha, diz-se que arrendou o apartamento e, com a renda mensal, veio viver com a namorada para Espanha, iam acampando ou ficando alojado num refúgio dos sítios que disponham de refúgios de montanha e, quando o dinheiro era escaço, trabalhava um pouco até ter mais guito para escalar mais algum tempo e vaguear entre escolas de escalada. A imagem que me surge do Paulo, é uma espécie de hippi das paredes rochosas.

 

“O Paulo com o Brasileiro, já depois da meia-noite, meteram os frontais na cabeça e foram fazer o Caminito Del Rey, só que cada um levava para ir bebendo no trajeto, levava, levava uma cerveja de 1,5L!”.

 

Silêncio, nada de exclamações. Apesar da boa forma física da maioria dos escaladores e da expansão de consciência que esta prática proporciona, por aqui às vezes também se cometem excessos e adaptam-se práticas não muito condizentes com exercício físico, mas há um está-se bem, um está-se bem de respeito mútuo pelo outrem, isto é mesmo com os que discordam de tais práticas.

 

O ruído arrastado da cadeira da esplanada do café surge-me harmónico no contexto de toda esta paz deslumbrante, mas já não escrevo no presente porque ainda estou confinado às memórias, aos desejos e ao contornos do físico, do que designo de eu, do que a mente criou como identidade individual, separada, mas é atrás de tudo, inclusive da mente, antes da mente nascida que desconfio de um outro EU imutável. E relembro, às vezes como se relembrasse cá de dentro, outras vezes como estivesse além do eu, além da própria experiência, além do tempo e distância.

 

Piso o passadiço de ferro, este não é o do Caminito Del Rey, o passadiço tem gradeamento de proteção de ambos os lados, é o passadiço da ponte de ferro da linha de comboios que rasgam estas montanhas.

 

Do lado direito a linha do comboio, panorama brutal talvez a mais de 50 metros por de baixo dos meus pés, ao meu lado esquerdo o rio com o começo da garganta rochosa de onde de um dos lados tem início o Caminito Del Rey. Silêncio compacto, sólido e simultaneamente subtil, águas lá no fundo esverdeadas e serenas.

 

Caminhámos emudecidos, embora os nossos passos não ecoassem, sentia-os como se ecoassem no abismo, no vazio e, subitamente, como se essa vastidão fosse expansão da minha própria consciência. Mesmo no final da travessia da ponte que tem aproximadamente talvez, talvez porque a memória não me dá essa informação com exatidão, talvez 100 metros, passa um comboio que faz estremecer levemente a estrutura de ferro. OK, nada de adrenalina, o caminho na ponde é seguro, gradeamentos estáveis e altos.

 

Após a travessia, estagnámos os quatro, ali mesmo à saída da ponte surgia-nos o Caminito Del Rey, tão humilde, tão simples e tão ingénuo. No máximo com 2 metros de largura, sem gradeamento de proteção como se flutuasse, como se levitasse e lá a mais de 100 metros a baixo o rio. Era quase como convite irresistível, uma espécie de sussurro que afirmava que nada de trágico podia acontecer, que talvez ali já se vencesse a gravidade e que flutuássemos. Ora não sei se duvidei da solitude da vida, não sei se me interroguei, provavelmente não, não nada, somente estava ali com toda a minha perceção, com todo o meu ser.

 

A intenção não era irmos escalar vias no sector do Caminito, porém a minha irmã a confirmar-me a ~existência como concreta, real, “Nem penses! Nem um pé no caminho! Estás louco, sabes que vês mal, não é?”.

 

Fiquei com a minha irmã a ver o João e a Cristina a afastarem-se alguns metros, só até o passadiço subitamente desabar no abismo, uma meia dúzia de metros cujo o caminho era reduzido a um único carril de ferro. O João e a Cristina retrocederam porque nosso objetivo como disse não eram as vias no desfiladeiro, o João simplesmente tinha ido mostrar à Cristina como era o início do trajeto de aventura na frágil trilha cravada na rocha das paredes fantásticas.

 

Urgência, urgência queria chegar rapidamente ao sector escolhido para escalar, precisava de escalar, precisava de me sentir leve, de dançar ao ritmo sincrónico do silêncio e da minha própria respiração, mas ainda existia o restante do percurso para caminhar. Afinal já não tinha urgência. Entrámos pelas escarpas adentro, isto mesmo porque penetrámos num dos muitos túneis que rasgam as montanhas para que os comboios as possam atravessar. Apesar de quimérico o percurso faz-se com segurança, isto é porque entre as paredes do túnel e da linha de ferro há uma distância de aproximadamente uns 2 metros e os comboios circulam a baixa velocidade e, ao entrarem nos túneis, apitam como sinal de alerta aos caminheiros.

 

Depois das trevas dos túneis, a desembocarmos numa luminosidade esplêndida, escarpas de ambos os lados, não vias muito altas, entre os 15 e 25 metros de altura com as plaquetes a luzirem. O sector estava silencioso, solitário, nem um único tilintar de um mosquetão.

 

O João ia-nos dizendo o nome das vias e o grau de dificuldade. Aqui na desportiva a filosofia de escalada é diferente da escalada clássica. A clássica pode-se dizer que é uma prática de aventura, de em maior ou menor grau, é uma escalada com riscos evidentes principalmente porque as proteções são fixadas na rocha conforme se vai realizando a subida, por exemplo fixas em fissuras e, por isso, existe a possibilidade de em caso de queda a proteção soltar-se da rocha. Na desportiva, os riscos são minimizados porque as vias são previamente equipadas com plaquetes, ou seja a via é estudada, ensaiada com a corda por cima e, posteriormente, é equipada para a eternidade porque a rocha é furada e as plaquetes ficam aparafusadas à parede. A via é então batizada e, depois, de alguns escaladores experientes a terem encadeado é definitivamente classificada com um determinado grau de dificuldade. Obviamente que embora mínimos, mesmo na desportiva há alguns riscos como algumas vias mais expostas ou quando as proteções ainda estão muito próximo ao solo e o escalador está a passar a corda no mosquetão colocado na plaquete, neste caso em algumas vias se houver uma queda do escalador por ter demasiada corda larga e estar próximo ao solo pode ir embater no chão.

 

“Ainda existem aqui manchas de sangue, foi nesta via que aconteceu a tragédia da última vez que estive cá.”, - o João falava e esticava o braços na direção da segunda proteção da via. “Foi um inglês, era a esposa que lhe estava a fazer segurança, ele já tinha a corda esticada estava mesmo a passar a corda no mosquetão quando caiu veio embater ali mesmo, ainda lá se encontra manchas de sangue. Disseram-me no refúgio que um escalador desatou a correr até ao café, chegando lá telefonou de imediato para os socorristas, veio um helicóptero que resgatou o Inglês, mas quando chegou ao hospital já ia sem vida.”.

 

Silêncio. A plenitude, a grandiosidade da vida e, simultaneamente, a fragilidade como lembrança da preciosidade da existência.

 

Caminhámos em silêncio. Havia algo de ingénuo e infantil na leveza e luz daquela manhã, talvez a ternura de todos os sorrisos de todas as crianças do mundo suspenso no imutável, não sei.

 

“Fernando, como é? Queres tentar esta via à frente?”, - a minha irmã observou o João e depois a via. – “Não há crise, primeiras proteções próximas umas das outras e além disso até a terceira proteção são presas enormes, a via é fixe para ti, inclinação negativa, mesmo para tipos cheios de força como tu.”.

 

A minha irmã, observou-me a mim e depois novamente a via como que a avaliar algum risco, ou não sei exatamente o que lhe ia no pensamento, mas não disse uma única palavra.

 

Tive a consciência que não havia qualquer problema, embora ninguém soubesse no percurso até às vias os meus olhos tinham turvado, o que às vezes sucedia porque já tinha problemas graves de visão. Estava próximo à rocha, à via e conseguia vislumbrar a primeira proteção a luzir, a segunda já não a via, mas pensei que depois de proteger a primeira com certeza conseguiria ver a segunda e por aí a diante.

 

Respirei profundamente, comecei a calçar os pés de gato (sapatos muito apertados com sola de borracha muito fina) e amarrei a corda no arnêse e, por último pendurei os mosquetões.

 

Primeira proteção, segunda proteção e uns 6 metros separavam-me do solo, só mais 10 metros, pensei. Estiquei os braços, meti uma mão de cada vez no saquinho de magnésio, respirei profundamente e comecei a trepar. Embora presas razoáveis sentia a gravidade em cada músculo do corpo que instantaneamente ia rodando, posicionando-se ora frontalmente, ora lateralmente, de forma a ter mais equilíbrio para progredir com o mínimo de força possível. Dureza, mas era dureza era preciso bastante força juntamente com técnica. Silêncio compacto em sincronismo perfeito com a minha respiração às vezes soprada e os mosquetões a tilintarem a cada nova proteção. Os dedos a quererem saltar das presas, não havia pensamentos de queda porque a concentração para superar os últimos passos próximo ao topo exigia superação física e mental.

 

“Vai lá, tu consegues, vai lá está quase.”.

 

Vozes pela primeira vez, a confirmarem-me que eu estava do linear das minhas forças e, simultaneamente, a dizerem-me que existe sempre mais um pedaço de força no íntimo do ser.

 

“Óooooo, treta…”

 

A parede deslizou rapidamente defronte da minha visão, o coração disparou e, depois de um leve esticar da corda a amortecer a queda, fui puxado de encontra a parede onde de imediato os meus pés se firmaram com suavidade.

 

A 2 metros do topo faltaram-me as forças e dei uma queda de 4 metros. Enfim, recuperei forças e voltei à via até a escalar ao topo. Não a tinha encadeado, mas sentia-me em paz, sereno e satisfeito.

 

Os meus pés a tocarem novamente solo firme e as lágrimas a deslizarem-me nas faces, lembrei-me de que estava com a visão turva e devo ter tido a consciência de que um dia poderia ter que dizer adeus às paredes rochosas.

 

EL CHORRO

 

Num tempo vindouro ,
ficar ciente da respiração e
do último instante.
E sempre consciente
renovar toda
a verdade
entre um instante e o próximo,
o absoluto revelar-se-á
imutável, silencioso, sorridente e infantil.
Por diversão,
com meu sopro
renovar-se-á
a vida inteira
e pela última vez
regresso a El Chorro
escalo uma via ao acaso
e sento-me numa pedra silenciosa
à espera da morte?
À espera do absoluto para mim,
onde me liberto,
onde te abraço sem te abraçar,
onde te sorrio sem sorrir.
Onde estou silenciosamente aqui e além,
onde estou subjacente a todas as eternidades

Dança na vertical,

É vida como quimera,
talvez mais próxima
do absoluto,
Não sei, não sei

Fernando Nunes

EL CHORRO (Junho 1995)0005.jpg

EL CHORRO (Junho 1995)0010.jpg

EL CHORRO (Junho 1995)0014.jpg

 

12
Dez18

VIAGEM NO CORAÇÃO

Fernando Nunes

VIAGEM NO CORAÇÃO

Um vagão estrépito
estremece-me
para dentro
e para fora
de mim mesmo,
neste embalar tão infantil,
tão inocente
de incerteza,
de inquietação,
de qualquer coisa que não conheço,
que recuso em reconhecer
deste embalar
que me oscila
entre o acordado
e o adormecido.


Lá atrás
no vazio da memória,
só ecos nostálgicos, elétricos,
no anúncio de partida
num apeadeiro estremecido
metamorfoseando real em irreal
como coisa certa
em coisa incerta,
como estado sólido, concreto,
em estado líquido, vaporizado,
em vida sisada
por vida leve,
como universo inteiro
fosse somente sonho,
transparente, límpido e lúcido.

Janela de vidro
que me separa
do lá fora
neste deslizar
o linhas de ferro
ou de sonho.
Mas é este
fugir constante
que entra de um lado da janela
e foge do outro lado da janela,

árvores, montes, rio e céu.
Embalar irrequieto,
interrogo-me:
"Que espaço é este
em mim mesmo
como se eu fosse
só quietude
e a vida inteira
deslizasse em mim mesmo?".

Sigo viagem neste viver

de imenso mistério,
sigo viagem para dentro
do meu coração

Fernando Nunes

limoeiros horizonte.JPG

 

11
Dez18

ESCALADA DESPORTIVA? SIM, NÃO, TALVEZ!?

Fernando Nunes

EL CHORRO (Junho 1995)0005.jpg

 

A escrever uma crónica sobre escalada desportiva, propriamente dito sobre a minha viagem a El Chorro, isto é à cerca de 25 anos. A ver vamos se a crónica sai para o papel (Processador de texto Word). Até lá fica um poema dedicado à escalada desportiva.

 

“Fernando, achas que ainda conseguias voltar a escalar?”.

 

Momento instantâneo com emoções simultâneas e sobrepostas, parcialmente vou afirmar-te que o meu íntimo ficou fundido em dois opostos como palmas das mãos juntas. Havia a liberdade, a serenidade presente no final de um dia de escalada em que já nada importava, em que as vias que tinha escalado estavam diluídas sem recordação, sem desejo e simplesmente eu quase me expandia ao horizonte, ao absoluto, quase porque ainda existia o senso de EU, de identidade, por muito leve, muito subtil que fosse. Porém, a união com a totalidade era muito intensa, muito serena e libertadora. O oposto dessa liberdade simultaneamente a soar-me como apego, como aprisionamento. Se a escalada desportiva poder-se-á afirmar como prática de atenção plena, a verdade é que na época em que praticava a escalada em rocha e, apesar, dos momentos de expansão de consciência que descrevi, eu estava sempre a escalar, despertava do sono noturno a imaginar falésias, fazia as tarefas diárias com imagens de vias e adormecia a sonhar com a escalada… Entendes o que isso significa? Não é liberdade, mas apego.

 

“Fernando, estás a ouvir?”.

 

“Sim, pai.” –respondi sem revelar o meu raciocínio, mas o coração acelerou o ritmo. – “Não sei, pai. Penso que sim, o facto de não ver não é impedimento. Posso escalar sempre com a corda por cima, sem ser à frente e, aliás, até me posso dedicar só à escalada INDOR ( Muros artificiais em pavilhões desportivos). Mas, mas tudo tem o seu tempo. Não sei se quero. Não sei, não me quero sentir aprisionado…”

 

E a conversa ficou assim mais ou menos resumida ao diálogo anterior.

 

Os dias fluíram serenamente, embora continuasse a escrever a crónica sobre El Chorro, a escalada só estava presente nos exatos momentos em que eu estava sentado ao computador a escrever.

 

E esta tarde fui a uma loja de material de montanha comprar umas meias bem quentes para me proteger do frio de Inverno.

 

…”Eu fiz escalada desportiva…”.

 

“Ah  sim! Eu também faço escalada desportiva, tenho estado parado há alguns meses por causa de uma lesão no ombro.”.

 

E o diálogo foi-se intensificando. Falou-se da minha época de escalada, dos novos sítios de escalada, de alguns praticantes da minha época que ainda estão ativos…

 

“Pois é, agora existem imensos muros INDOR para o pessoal treinar, e existe quem se dedique quase exclusivamente à escalada em muros INDOR. Tu se quiseres ainda podes voltar à escalada.”.

 

Mais conversa, até que a personagem desta tarde me revela o local de um dos muros INDOR que por coincidência fica próximo da minha casa.

 

Interrogação? O que me vai agora no pensamento, na alma? Não sei. Escalar ou não? Não sei. Depende principalmente da minha consciência, se voltar a experimentar e conseguir escalar, só escalar quando estou a escalar, se conseguir que esse tempo de prática seja como os 22 minutos de meditação matinal que realizo todas as manhãs e que me expande a consciência para a presença serena do momento presente, mesmo assim não tenho a certeza. Talvez sim, talvez não, abro agora o coração ao universo, ao absoluto para que o fluir natural me conduza no caminhar do mistério da existência.

 

Ah! O poema! Aqui fica para ti

 

ESCALADA DESPORTIVA

Eu quero a solidão
de vermelho e
escorrida pelas falésias  dos
lampejos de sol  a
afundar-se

No mar em fogo que me roubou
o coração e alento
levado ao vento
ao infinito de memória que
se expande além memórias arcaicas.

Não levo nada comigo
para o infinito,
mas só no último desejo
os gritos emudecidos das rochas
o bailado sincrónico em levitação em
ritmo de respiração ofegante ou profunda

E as pontas dos meus pés e mãos trémulas a
equilibrarem-me
sob o vazio em alucinação ou transe ou
não sei quê

De coisa a transmutar-se de vida sólida em quimera…

Não levo nada,
Não quero nada só
último entardecer  leve, suave,
esgotado nos meus olhos e
a escoar-se em horizonte desbotado e
as rochas choram agonias de alegrias com
lágrimas nas minhas faces.
Neste entardecer
as rochas sussurram-me melodias de ecos que
me segredam que
viver é o momento intacto de silêncio
subjacente a cada instante de “vida”.

Lavo-me de mim mesmo
no infinito
atrás de cada nova lua.

Fernando Nunes

EL CHORRO (Junho 1995)0010.jpg

EL CHORRO (Junho 1995)0014.jpg

 

10
Dez18

SERÁ A PRIMEIRA NOBRE VERDADE, VERDADEIRA?

Fernando Nunes

pedras no limoeiro.JPG

 

1ª Nobre verdade - A vida é sofrimento?

 

Um gajo é jovem, quer é divertisse, curtir a vida a noite, beber uns copos e afins... Iá, até planeia um futuro de cinco estrelas, faculdade, um emprego espectacular, família, filhos ... Tu estás a ver a cena, não é que não se engendre o futuro, mas existe esta adrenalina, este sentimento de imortalidade, este querer-se tudo...

 

Embora camuflado, aqui já existe sofrimento, a incerteza, a insegurança, e outros sentimentos que até determinado ponto são relativamente salutares. Porém, há adolescentes que abraçam caminhos de prazer que inevitavelmente levam ao sofrimento. Exemplo: excesso de drogas e excesso de álcool principalmente quando o abuso é contínuo.

 

É Primavera ou Verão ou simplesmente um dia sereno de sol. Uma personagem vira a esquina embocando numa ruela abafada de sombras que contrastam com espirais de luz que escorrem de um céu límpido. Pensa que Lisboa é terna, respira profundamente o que o circunda, o silêncio, a arquitectura dos edifícios antigos e, apesar de subitamente ouvir sons agudos martelados, continua absorto em plenitude, mas um objecto que um trabalhador sustentava nas mãos vem disparado do cimo do prédio e atinge fatalmente a personagem...

 

Este é um dos sofrimentos que mais tarde ou mais cedo, todos experimentamos na vida, o sofrimento da morte, a perda inesperada de um ente querido. Para não estar a desenvolver demasiadamente este tópico, englobo nesta categoria de sofrimento, também as doenças que são sempre causa de sofrimento.

 

Ele tem a cabeça sustenta entre as palmas das mãos, pronuncia palavras inaudíveis, a esposa acarinha-lhe os cabelos, engole em seco reprimindo as lágrimas, subitamente a voz exalta-se revelando desconsolo absoluto, "Ó vida, porquê eu? Sonhei tanto com esta moradia, sonhei tanto! Trabalhei para conseguir concretizar este sonho e, agora 1 ano depois de ver o meu sonho erguido, este maldito fogo que devorou tudo? Porquê?". Abraçam-se os dois a chorar.

 

Nesta categoria de sofrimento engloba-se todas as perdas materiais a que estamos apegados. O problema do sofrimento não é a perda dos bens, mas é o apego que temos aos objetos dos nossos desejos.).

 

1º Sofrimento da morte. 2º Sofrimento de algumas escolhas que não são as mais convenientes. 3º Sofrimento das doenças. 4º Sofrimento da perda de bens materiais e outros apegos, desejos / apegos.

 

Embora em graus emotivos diferentes, todos experimentamos as categorias de sofrimentos citadas anteriormente.

 

Esta é a primeira nobre verdade que o Buda ensinou, "A vida é sofrimento."

 

Descodificando a afirmação à luz dos ensinamentos do próprio Buda.

 

1ª Aqui a palavra "verdade" é relativa, porque o Buda nunca afirmou que o que ensinava fossem verdades absolutas, antes pelo contrário incentivou os seres à observação / contemplação e, por si mesmos, tirarem as suas próprias conclusões. Caso concluíssem que os ensinamentos não eram benéficos, então não os deviam praticar só  porque fora o Buda que os citou, ou porque estavam escrito em livros considerados sábios.

 

2ª "A vida é sofrimento.". O Buda não disse que toda a vida era sofrimento, porém, afirmou que há sofrimento na vida, que o sofrimento é inevitável a todos os seres. O ênfase no sofrimento, é um lembrete a todos os seres para que se sintam motivados a levar uma vida de auto-conhecimento, de valores humanos, de cultivarem o amor altruísta, de minimizarem o sofrimento dos seres e, de trilharem um caminho que pode levar a liberação do sofrimento.

 

E esta é uma interpretação da 1ª nobre verdade das 4 nobres verdades que o Buda ensinou. Realço que é uma codificação feita à luz da minha própria perceção / interpretação da 1ª nobre verdade.

 

Fernando Nunes

 

09
Dez18

SILÊNCIO QUE SOSSEGA

Fernando Nunes

SILÊNCIO QUE SOSSEGA

Gosto do silêncio aberto,
gosto do silêncio que sossega.
Gosto do silêncio
com uma varanda debruçada
sob o infinito.

Numa aldeia da Beira Baixa
há jardins de xisto
com caminhos de terra batida emudecidos,
que me ensinam
coisas simples e nobres.
E há árvores que me amam e pedras que me falam de vida e morte…
No jardim da minha aldeia
as estevas e carquejas
pulverizam-me o coração
e ensinam-me o infinito.

Porquê não posso
ser além do horizonte,
substância Mais leve que atmosfera
e, ás vezes, por diversão,
bruma translúcida e pensamento que solidifica e árvore e pedra e pessoa e universo e,
novamente, só sossego que sossega.

Na minha boca
sabor de terra, de carquejas e estevas
e nada preciso de saber
e nada preciso de ser.

Uma varanda debruçada sob o infinito.

Fernando Nunes

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2018
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub