EU ACREDITO QUE POSSO VOAR
Posso voar,
eu acredito que posso voar.
Agarro um pensamento
e dou-lhe um pouco
de alento e de cor.
Deixo-o ficar
a levitar
leve e infantil,,
como sonho lúcido
que o posso moldar,
em coisa concreta, sólida…
Mas não quero
mais mundos paralelos
onde posso brincar
ou ficar aprisionado.
Abro-me
em quietude, silêncio e espaço.
Eu posso voar,
sonhar e materializar,
mas ao invés de
construir,
destruo
a solitude da vida
até que se revele só sonho, só fantasia.
Meu sonho
não é
materializar
sonhos.
Meus sonho
é explodir
em gargalhadas ardentes
e despertar do sonho cósmico.
Há uma noite
silenciosa
com um latido agudo
de um cão
ou lobisomem que tu imaginas
e as estrelas tão trémulas baloiçam melodias de cigarras perdidas em infinitos,
e tu
abres-te ao espaço além
de tudo o que conheces,
de tudo o que imaginas…
É só isso
a liberdade que te liberta
num súbito instante
de quietude, silêncio e espaço infinito.
Deita fora
este poema
e escreve outro e outro e outro
até esgotares
a vida inteira
e deixa-a continuar a rodar,
mas fica fora
da roda infinita de fantasias.
Fernando Nunes