Silveira dos Limões
SILVEIRA DOS LIMÕES
Aldeia
nas memórias
que me foram contadas
e cantadas e inventadas
nas vozes dos meus avós,
aldeia de outrora
com gaiatos de pés descalços
em correrias desvairadas
rua acima e rua abaixo…
E delineiam-se
carros de madeira com rodas de ferro
arrastados por bois ou burros
e habitações de xisto e caminhos de terra e noites inteiras e infinitas e o mistério atrás de cada estrela ou de uma sombra ou lendas de bruxas ou lobisomens.
Hoje
estás bem assim
despida de gentes,
solitária e silenciosa
e encantas-me na terna luminosidade
num sussurro de alvorecer,
talvez carquejar de galinhas
ou voz rouca de velho.
Abro a janela,
não sei nada,
não sei a vida,
não sei a morte…
Sorrio
ao mistério de existir
em cada instante
que se revela
sem passado e futuro.
Só o próximo verso
suspenso em silêncio…
Fernando Nunes