A SESTA DA ALDEIA
A SESTA DA ALDEIA
Esgotam-se as horas da madrugada
e desta hora,
como se o tempo
se suspendesse
no sono pesado das minhas pálpebras
Tão vaga
a vida que se desvanece
numa espiga de milho
trémula, como derretida no ardor da tarde.
Ainda coexiste
qualquer coisa real
que se me revela
como subtileza soprada do meu fôlego
a inventar uma vida inteira
onde eu já não sou eu,
e ainda assim sou eu.
Vou, vai quem vai
de pé ante pé
como louco alucinado
à procura de vivalma?
Responde-me
o sossego por detrás de uma porta e outra porta e outra porta…
Silêncio,
e dormitam ao relento também as pedras
soçocadas no ardor da tarde de Agosto.
Desvanece-se-me
o corpo e o sorriso
e penso que adormeci
ou sonho que adormeci?
Silêncio
mistério
revelação
e mais mistério…
Fernando Nunes