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Viagens Pela Vida

Poesia e coisas do coração

Poesia e coisas do coração

Viagens Pela Vida

05
Fev19

A BELEZA DA INCERTEZA

Fernando Nunes

ruinas a entrada da silveira (1).JPG

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (1).

A BELEZA DA INCERTEZA

Frio tão inocente
no olhar que me regala a madrugada
e as lágrimas
embelezam a alegria
da minha boca
tão aberta de espanto e vem horizonte que me leva e me lava
a certeza da vida.
Fico enfim
despido de mim mesmo
Não sei
o que é fora,
o que é dentro,
o que é estar a dormir,
o que é estar acordado,
o que é sonho e não sonho,
o que é nascer e morrer…
Humilde neste instante
que sinto infinito e mistério,
humilde na incerteza da hora da morte.
Humilde porque sei simplesmente
que sou terra e água e fogo e ar e espaço e consciência.
Tudo me foi
emprestado
por um momento fugaz
que por engano designei de
“a minha vida”,
como se construísse vidraças inexistentes
que me aprisionam num rodopiar
de viver e morrer de viver e morrer e viver e morrer e viver e morrer…

Caminho e nada sei,
mas nesta madrugada
sorri a criança
como se brilho de sorriso
fosse a minha e tua
verdade imutável.

Fernando Nunes

27
Jan19

O SILÊNCIO

Fernando Nunes

limoeiros horizonte.JPG

O SILÊNCIO
O silêncio,
esse silêncio do espaço aberto de serro
que me arde na garganta
e me aperta e me queima a entranha.
Insólito, desconhecido e desolador,
só no início.
No primeiro contacto
fere-me a face
como arestas de pedras esquias e escorregadias
e nas mãos não o agarro.
Mesmo que lhe tente
em vão dar-lhe uma forma de música
e bata palmas
ou trauteio ao infinito
um fado desafinado,
ressoam as sonoridades
como ecos que penetram o
mistério
e invocam o silêncio.
Já não é ruge
a terra emudecida,
a montanha silenciosa.
Abre-se-me no peito
esse espaço
de silêncio
acolhedor como promessa
de não sei o quê de eternidade.
Quietude
silêncio
espaço
Fernando Nunes

24
Jan19

EU ACREDITO QUE POSSO VOAR

Fernando Nunes

dia de trovoada002.JPG

EU ACREDITO QUE POSSO VOAR

Posso voar,
eu acredito que posso voar.
Agarro um pensamento
e dou-lhe um pouco
de alento e de cor.
Deixo-o ficar
a levitar
leve e infantil,,
como sonho lúcido
que o posso moldar,
em coisa concreta, sólida…
Mas não quero
mais mundos paralelos
onde posso brincar
ou ficar aprisionado.

Abro-me
em quietude, silêncio e espaço.

Eu posso voar,
sonhar e materializar,
mas ao invés de
construir,
destruo
a solitude da vida
até que se revele só sonho, só fantasia.

Meu sonho
não é
materializar
sonhos.
Meus sonho
é explodir
em gargalhadas ardentes
e despertar do sonho cósmico.

Há uma noite
silenciosa
com um latido agudo
de um cão
ou lobisomem que tu imaginas
 e as estrelas tão trémulas baloiçam melodias de cigarras perdidas em infinitos,
e tu
abres-te ao espaço além
de tudo o que conheces,
de tudo o que imaginas…
É só isso
a liberdade que te liberta
num súbito instante
de quietude, silêncio e espaço infinito.

Deita fora
este poema
e escreve outro e outro e outro
até esgotares
a vida inteira
e deixa-a continuar a rodar,
mas fica fora
da roda infinita de fantasias.

Fernando Nunes

20
Jan19

GONGO PLANETÁRIO

Fernando Nunes

GONGO PLANETÁRIO

Sons semelhantes
e todos tão diferentes,
vibram nas minhas vísceras.
Gentilmente
como assobio de galáxia arcaica,
um rodopio harmónico
agita-me
os medos as agonias as alegrias os desejos e
súbito silêncio
abre-se em espaço de nada e de tudo.
Ronco estrondoso
destrói
definitivamente o universo inteiro e meu íntimo e,
novamente,
o renova com melódicos de boas novas…

Esvaziar
de tempo  e de espaço e
subtil interrogação
se existência é fantasia?
Tilintares metálicos
em delicados risos infantis
diluem meu questionamento
como piada cósmica.

Gongo planetário
que me destrói
e me reconstrói
e me integra
em mim mesmo e
para lá de mim mesmo.

Sou leve e livre e intenso
e atrás de mim mesmo
e atrás da vida e da própria consciência,
Quem sou eu?

Fernando Nunes

 

18
Jan19

PRESENÇA

Fernando Nunes

PPRESENÇA

Talvez
e só talvez,
ao ritmo incrédulo
da minha respiração
tudo se dissipe
como chispas
a estourarem no espaço aberto e imaculado.
E novamente
a terra, a vida e a morte,
numa canção
de alegria e angústia,
mas que para mim
será como
bolinhas
de sabão sopradas
ao infinito por
brincadeiras de crianças.

Não sei nada,
quando as bolinhas
também estourarem,

silêncio
como melodia de fundo,
e mistério e infinito
suspenso
no sossego do meu coração
que é presença infinita.

Fernando Nunes

sentado no banco das escadarias do terreiro.JPG

 

05
Jan19

CLARA LUZ

Fernando Nunes

CLARA LUZ

Não sei a brancura
de um sol baixo de Inverno
que se empoleira no horizonte

E respiro e estico-me devagarinho até lá,
ao horizonte.
Repouso, sossego,
e prostro-me com humildade
ao mistério e ao infinito,
como minha vista e crânio e toda a memória passada e vindoura
num instante
se dissociassem  em terra, água, fogo, ar e espaço e
pura luz clara que
não é luz, só é
genuína presença aberta
ao espaço de mistério e infinito.

Nasci
e esqueci-me de que morrerei.

Inflamou-me o sofrimento
a inspiração
para viajar ao imutável.

Sorrio
à estrela que se esvai
na primeira luz da madrugada.
Viajo e
a cada novo passo
o viajante
sente a quietude de ser
como se árvores e estrelas e vento e até espaço que sustenta a Terra,
é que se movimentassem
no centro do espaço
do coração aberto ao absoluto.

Sorrio,
não viajo,
viaja o universo intacto a cada instante
no centro do peito
que é
como sol de Outono
repousado num céu vasto
de pura consciência imaculada.

Acarinha-me a face
a luz pálida debruçada
na vidraça da janela.
Afago uma flor e
sinto
nuvens entre meus dedos.
Vislumbro sorriso de uma criança
e avisto infinito
em todas as infâncias do universo.

Fernando Nunes

dia de trovoada002.JPG

 

31
Dez18

A MINHA NOVA FACE

Fernando Nunes

Feliz ano :) Saúde e felicidade. Que todos os seres sejam felizes :) :)

 

A MINHA NOVA FACE

A minha face que
brilha em mim e em ti
como relembranças frescas ternas de
desenhos de crianças coloridos em folhas que
são despedaçadas ao vento em mil pedaços e
esquecidas
como coisa importuna da minha infância
queimado em bafo de noite quente
que me arde no ventre
sem rasto de memória.

A minha face
agora luminosa
fresca e húmida e peganhosa
no orvalho noturno
do meu rosto de mistério sem rosto
que sossega nesta terra crua e nua.

Ade renascer
em mim e em ti
a minha nova face
de rosto feito de infinito
que me queima agora a boca
com todos os alvoreceres
com línguas de fogo
que lambem e queimam
todas as eternidades
no mistério do infinito.

Fernando Nunes

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (3).

sol a bailar no jardim do terreiro da saudade (3).

 

28
Dez18

EXISTÊNCIA FUGAZ

Fernando Nunes

EXISTÊNCIA FUGAZ

O homem
vaivém
entre ânsias e ambições,
um sonho após outro sonho
move-se como cadáver ambulante
que carrega pensamentos e desejos.
Ás vezes sente
a exaltação  do êxito,
que se escoa da mente
com rasto agarrado de sofrimento.
Sorri ao horizonte num instante
sem ressentimento ou desejos e
no próximo momento já o pensamento
turva a luz do coração.

Dois ciprestes
crescem erguidos ao alvorecer e
o pássaro
esvoaça entre ramos e árvores.
Não pensa o pássaro no
passado ou futuro,
não sabe o cipreste que
foi pequeno e será grande e radioso.

O homem
olha a nuvem cinzenta e a branca e a negra e a brilhante e a baça e
mesmo quando vê a lua cheia
não vislumbra
o brilho estendido ao infinito.

Dois cadáveres descompõem-se
na terra nua e crua e
 sob a superfície do cemitério
há fulgor
de ouro e de silêncio  de
paz, a mesma paz
que nos dois corações habitou
e era o portal
para esta fresca paz de alvorada,.
Mas onde vagueia
consciência dos dois cadáveres?
Se não em sofrimentos
inventados
de fantasias de desejos e ansiedades?
Não sei, não sabes
ninguém sabe.
É aqui e aí e infinito
este único instante
de coração aberto
que eu e tu
podemos ser e permanecer
a presença serena
que é além
de todas as coisas
inventadas e não inventadas.

A flor abre-se a leste ou oeste,
a criança sorri só para ti,
Na cidade o passarito  chilra  entre teus passos agitados,.
Súbita sirene de ambulância
faz-te ver a fragilidade da existência.
Acarinhas a flor,
unes teus olhos ao riso da criança,
caminhas sereno ao ritmo melódico do chilrear do pássaro

Fernando Nunes

jardim dos limoeiros (1).JPG

 

26
Dez18

RITO DE NATAL

Fernando Nunes

RITO DE NATAL

Agora que relembro neste relembrar que vislumbra a memória não cá de dentro de um espaço confinado de um “eu” limitado, mas que vislumbra as recordações de um espaço mais aberto e livre como coração que a cada pulsação se vai abrindo à vontade para que todas as experiências sejam proveitosas tal qual como são… Enfim, embora o poema fale do menino esquecido e identificando-me com essa personagem de outrora cujo Natal traz-me tradições de uma aldeia da Beira Baixa em que na noite do dia 24 de Dezembro era ateado o fogo aos madeiros para que a fogueira ardesse noite dentro. O menino não era esquecido pelos vultos que à roda do braseiro em labaredas iam anunciando a chegada do Natal, porém o menino ficava esquecido de si mesmo não numa espécie de transe psicadélico de mundos fantasmagóricos. Era um esquecer-me de mim mesmo muito sóbrio, com os pés bem assentes na terra.

 

O fogo ardia alto brotando calor em contraste com a atmosfera fria, as pessoas brilhavam nítidas, alegres, sorridentes e bem expressivas à luz da fogueira tão intensa como se um pedaço do sol estivesse ali a ser consumido, mas num súbito algumas pessoas recuavam transmutando-se quase em sombras e eu ficava a ver e a interrogar-me muito subtilmente o que é que eram as sombras e as formas sólidas? E as risadas, as vozes mansas ou mais exaltadas tão expressivas, compactas e reais como se me vibrassem entre os dedos quentes pelo fogo, mas ao ritmo das fagulhas que subiam e estoiravam no ar gélido surgia uma voz rouca com olhos rasos de lágrimas que cantava uma melodia de boas novas. Então já não me pareciam as sonoridades assim tão concretas e palpáveis, a própria melodia ressoava como se viesse da obscuridade do pinhal ou de algum sítio misterioso longínquo e, simultaneamente, pulsava-me no ritmo do peito que subia e descia na minha respiração fria da noite e quente da fogueira.

 

As vozes iam ficando mais como ecos inexpressivos e os passos mais audíveis, mais puros porque pisavam a terra, o orvalho rasteiro encavalitado em algum mato ainda não crescido que os sapatos calcavam cuidadosamente porque a obscuridade ia-se convertendo em negrume denso. Ao virar a esquina do palheiro de paredes enrugadas de pedras de xisto, a frágil luminosidade que provinha das labaredas mais altas e ainda me conseguia oferecer perceção mínima dos que meus olhos iam esgravatando, instantaneamente sumiu-se.

 

Agora eu estava mesmo pequenino, encolhido algures não sei onde. Arremessei as costas de encontro à parede e levantei os olhos à imensa dimensão do firmamento, não havia coisa mais bela e mais grandiosa e mais misteriosa e mais sóbria do que a infinidade das estrelas e não vou acrescentar mais nada porque já foi tudo escrito, expressado sobre os astros que nos roubam o coração e nos tiram o fôlego.

 

Silêncio. Infinito. E nada para retirar, e nada para acrescentar, e nada para me interrogar, estava bem comigo mesmo e com tudo o que me circundava.

 

Que idade tinha eu? Em que ano se desencadeou essa vivência?

 

Espera, não quero o tempo, nem mesmo todas as imagens arquivadas na memória individual que delinearam esta personagem que está aqui a escrever, quero só o espaço, o espaço de criatividade de onde brota a escrita, donde brota a própria criação… Que vou designar de presença serena e infinita.

 

“Fernando, Fernando??!!”.

 

A voz da minha mãe a chamar-me à realidade da minha identidade limitada em memórias, em um físico, porém, mesmo ao regressar para próximo da minha mãe e da fogueira, a voz da minha mãe surgia-me como se fosse simultaneamente a voz de todas as estrelas. Não, não era nenhuma experiência mística, nenhuma experiência de júbilo. Somente estava ali, sereno como presença infinita, provavelmente mais “identificado” com esse mistério de ser infinito, de sentir-me o palco e não uma personagem do grande palco cósmico.

 

“Ah! Estás aí, Fernando. Vem com a mãe, está na hora de ires dormir, deves estar cheio de sono, não?”.

 

Não falei porque me apetecia aquele silêncio no meu corpo, na minha boca, no meu pensar.

 

Quando a porta roncou gravemente e se abriu e se fechou, ao dar meia-dúzia de passos e entrar na cozinha vislumbrei a minha avó junto ao fogão com rosto pálido e um sorriso desvanecido e trémulo à luz de uma pequena chama do candeeiro de petróleo.

 

“Ó Beatriz, ainda bem que aí vens, faz-me um favor, arranja a lareira que as chamas estão murchas.”.

 

A minha mãe sorriu e afirmou que sim, que me ia só deitar.

 

Depois de um beijo terno, a minha mãe afagou-me os cabelos e saiu do quarto.

 

Escuridão total e o peso das mantas de fitas que pesavam mais do que aqueciam, e os murmúrios vindos da cozinha era sinónimo que a minha mãe e avó continuavam a fazer as filhós, e subitamente uma ternura imensa a inundar as trevas do quarto.

 

“Ó meu menino Jesus,
ó meu menino tão belo,
Só vós pudestes nascer
na noite do caramelo…”.

 

Cantigas ao ritmo do estender as filhós, do fritar as filhós como para espantar o sono, como para enternecer o Natal. E eu ali ainda acordado encafuado na cama gélida que já começava a amornar, sentia o espírito vivo do Natal. Não sei porquê, nem é para ser explicado, mas aquele miúdo sentia os olhos rasos de lágrimas.

 

Ái, ái ái. A ternura começava a transmutar-se em medo e, depois, em pânico. Queria-me mover, mas sentia os músculos paralisados, queria gritar, mas a língua não se movia. E aquele vulto real que eu não conseguia vislumbrar, avançava lentamente por cima das mantas na direção da cabeceira da cama, na direção da minha cabeça!

 

“Áaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh, mãe! Mãe, depressa, um bicho, depressa…”

 

Só uns segundos que eram uma eternidade e, finalmente a minha mãe a entrar no quarto com a luz trémula numa mão. Vi-lhe o sorriso tranquilizador.

 

“Fora daqui! O que é que estás aqui a fazer.”

 

Um bichano, um gato a escapar-se pela porta entreaberta.

 

Nessa época as portas das casas das aldeias tinham as gateiras, uma abertura arredondada recortada na parte baixa da porta por onde os gatos podiam entrar e serem muito bem-vindos a casa a qualquer hora do dia ou da noite porque assim as casas ficavam ausentes dos ratos e outros bichos. Os gatos também tinham o hábito de por vezes se deitarem sob as mantas para se aquecerem e aquecerem os pés de quem estava aconchegado a dormir!

 

“Está tudo bem, Fernando. Dorme na paz de Deus.”.

 

Dei conta dos passos a ecoarem no soalho de madeira e a sumirem-se.

 

“Gatinho, gatinho, vem cá, eu não te faço mal, gosto muito de ti, vem cá.”.

 

Silêncio, senti-me desolado, tinha tido terror de um gato e naquele momento queria-o ali a fazer-me companhia. Fechei os olhos, tapei a cabeça com as mantas e tentei dormir.

 

“Miáu, miáu…”.

 

Sorri com gratidão, o meu melhor presente de Natal.

 

Acarinhei o gato até que os olhos se fecharam por si mesmos e eu adormeci.

 

Continuaram as estrelas na noite de todas as eternidades, a bailarem, a ensaiarem melodias para despertarem os homens para a realidade subjacente a todo o universo. Não sei, não preciso de saber, só preciso de ser inteiro, de estar no mistério da presença infinita como aquele menino daquele tempo, daquele Natal.

 

RITO DE NATAL

Rito de Dezembro
ou de Inverno
ou de frio,
regelado no rosto De menino,
mas de fogo no coração amedrontado
de mistério e escuro e encanto.

O fogo aquece só o rosto
porque o rabo está frio.
Canta o velho com voz trémula,
à roda da fogueira
há vozes e risadas e canções e filhós
e o menino esquecido
com coração de fogo e de encanto
vê o mundo
num vislumbro de eterno e de sonho.

Quero o frio de Dezembro
e o rosto regelado
de menino que já não sou.
Tenho medo do eterno
de acordar no súbito certo
que o passado, presente e futuro Somente são sonho.

Faíscas de fogueiras  De todas as aldeias
são como vidas
tão fugazes,  efémeras.
Queimo  no fogo meu coração
em mil pedaços de estrelas,
queimo no fogo o medo do eterno
e redescubro a alegria de
viver a vida como menino que
sorri ao sabor do sonho.

Fernando Nunes

ruinas a entrada da silveira (1).JPG

 

25
Dez18

O CAMINHO

Fernando Nunes

O CAMINHO

É sentado
que aprendo o caminho,
mas não é sentado
que faço o caminho.

O caminho
é quando não caminho
e o caminho flui
como sorriso espontâneo
em mim mesmo.

O caminho
é o espaço ilimitado
do existir de todas as atividades.
onde sol
é refletido como sol.

Apanho uma flor
do chão
sem pensar
nos espinhos ou
nas pétalas sedosas

Sereno
na boca da nascente
não me deixo levar
por águas límpidas
ou águas turvas.

Tenho uma pedra
no sapato
velho e furado,
choro
não porque me dói o pé.
Choro
porque deito os sapatos fora.
No início dói-me
os pés.
A cada novo passo
há a frescura do novo
e aprendo a pisar a terra
e a senti-la como é.

Olho para trás
e não vislumbro
rastos
dos meus pés nus.
Olho para o futuro
e não vislumbro nada.
Os pés
caminham
frescos e renovados,
só um passo de cada vez.

Este poema
não é belo,
mas traz-me a frescura
subjacente
de cada verso.

donde brota
o teu pensamento?

Fernando Nunes

004.jpg

 

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