O SILÊNCIO
O SILÊNCIO
O silêncio,
esse silêncio do espaço aberto de serro
que me arde na garganta
e me aperta e me queima a entranha.
Insólito, desconhecido e desolador,
só no início.
No primeiro contacto
fere-me a face
como arestas de pedras esquias e escorregadias
e nas mãos não o agarro.
Mesmo que lhe tente
em vão dar-lhe uma forma de música
e bata palmas
ou trauteio ao infinito
um fado desafinado,
ressoam as sonoridades
como ecos que penetram o
mistério
e invocam o silêncio.
Já não é ruge
a terra emudecida,
a montanha silenciosa.
Abre-se-me no peito
esse espaço
de silêncio
acolhedor como promessa
de não sei o quê de eternidade.
Quietude
silêncio
espaço
Fernando Nunes